22.3.12

Urbanismo Colaborativo 2.0 / Collaborative Urbanism 2.0

A ideia das plataformas colaborativas virtuais voltadas para as decisões municipais é conceitualmente fantástica: traz o cidadão mais perto das decisões politicas municipais, tornando a democracia mais eficiente. Algumas que têm feito sucesso pelo Brasil são a Cidade Democrática e o PortoAlegre.cc, sites onde as pessoas podem expressar livremente quais são as demandas locais. Vou chamar esses meios existentes de Urbanismo Colaborativo 1.0.

Porém, mesmo com milhares de pedidos de mudança cadastrados nessas plataformas, existe ainda imprecisão nessa voz coletiva para decidir prioridades entre as medidas serão efetivadas. Como o custo para dizer qual a sua "vontade" de mudança na cidade é próximo a zero - uma conexão de internet de 5 minutos - para então influenciar as prefeituras a gastarem seus recursos do grande bolo público, essa vontade torna-se pouco pensada, já que o cidadão não dispõe dos incentivos necessários para realmente pesquisar e identificar as prioridades objetivamente. Exemplificando para casos de Urbanismo Colaborativo 1.0,  talvez muitas pessoas peçam para que novas praças sejam feitas e que alguns edifícios sejam tombados, mas se os recursos usados para tais medidas estivessem no seu bolso a sua destinação talvez fosse diferente. Milton Friedman já dizia que a pior forma de gastar dinheiro é quando uma pessoa gasta o dinheiro de outra pessoa, já que não há perda significativa se a decisão errada e já que há pouca informação sobre o que esta outra pessoa quer. Por outro lado, a melhor forma de gastar dinheiro é quando gastamos para nós mesmos, já que temos tanto os incentivos (afinal, estamos abrindo mão do nosso próprio dinheiro) como não há ninguém melhor que nós mesmos para arbitrar quais são nossas vontades prioritárias.



Atualmente, no Brasil, existem basicamente duas formas de gestão municipal. Uma é a do grupo de políticos e técnicos tentando identificar quais as necessidades prioritárias da população através de dados de censos e pesquisas de opinião como as plataformas colaborativas existentes (que sabemos que constantemente sofrem distorções de natureza política). Outra é o Orçamento Participativo que, iniciado justamente em Porto Alegre, também acaba caindo no mesmo problema de incentivos e falta de informação para tomada de decisão. Além disso, no sistema atual do OP somente cerca de 1% da população efetivamente participa já que as audiências são demoradas e custosas e, principalmente, inacessíveis para os trabalhadores assalariados de baixa renda que não possuem tempo para ir nas reuniões onde as decisões são tomadas.

Apresentados estes problemas, sugiro uma forma de aperfeiçoar o Urbanismo Colaborativo 1.0: unindo-o com plataformas de crowdfunding. Sites de crowdfunding como o Catarse, primeiro brasileiro a ganhar relevância, permitem cada usuário criar e financiar uma causa de forma colaborativa, seja ela de mudança social como a Marcha da Maconha ou até mesmo um objetivo mais pessoal, como ajudar um grupo musical a lançar um EP. Já o Kickstarter seleciona os projetos que envolvem criatividade e inovação, com iniciativas surgindo que também envolvem temas urbanos, como o projeto para incentivar fazendas urbanas na cidade de Raleigh. Em um projeto de crowdfunding todos os meios de participação são possíveis: alguns fazem sua contribuição financeira, alguns ajudam a divulgar e a defender a ideia com toda boa vontade, outros fazem ambos. Criando então uma nova plataforma mista - Urbanismo Colaborativo 2.0 - a mudança também não dependeria mais apenas da boa vontade de um pequeno grupo de pessoas, como os voluntários do PortoAlegre.cc, em um sistema onde os retornos são coletivizados: todos teriam incentivos de agir positivamente, já que sem sua contribuição pessoal o projeto que você tanto quer realizado pode não sair. Essa plataforma permite não só a resolução do problema de incentivos, já que existe um gasto pessoal para contribuir com uma causa, como a potencialização das informações disponíveis a cada usuário, já que estão ali para serem estudados os milhares de problemas urbanos alertados por milhares de moradores. Imagine um festival urbano como o BaixoCentro (que já arrecadou mais de R$17 mil através do Catarse) se os recursos que os paulistanos já pagam para a prefeitura pudessem ser voluntariamente direcionados à ele?

Assim, levando o conceito ainda mais adiante, o Urbanismo Colaborativo 2.0 poderia até mesmo substituir uma parte da Prefeitura de hoje. Ora, o objetivo dos representantes não era exercer as vontades da população? Então porque não encurtar o caminho desse processo? A atualização dos mecanismos da prefeitura de coleta de dados pela plataforma online a tornaria mais enxuta, podendo então devolver os impostos já adquiridos à população. O próprio orçamento para os projetos poderia ser redistribuído para os usuários da plataforma, para que cada um escolha os projetos que acreditam ser mais prioritários, com incentivos para tomar a decisão correta já que os seus recursos são limitados. O problema da desigualdade de renda e, simultaneamente, de viabilidade política, pode ser resolvido devolvendo uma quantia igual para cada residente da cidade, créditos que poderiam ser gastos livremente na plataforma online, tornando o sistema mais igualitário e mais eficiente ao mesmo tempo. Ainda, por ser um sistema muito mais acessível e de custo de participação baixíssimo, isso também atrairia um número muito maior de cidadãos a escolher quais são as causas prioritárias. O Urbanismo Colaborativo 2.0 não seria simplesmente uma forma de tornar o cidadão mais próximo da tomada pública de decisões, mas sim de colocar as decisões nas mãos dos próprios cidadãos.

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The idea of virtual collaborative platforms directed to municipal decisions is conceptually fantastic: it brings citizens closer to municipal decisions, turning democracy more efficient. Among the ones that have made success in Brazil are Cidade Democrática and PortoAlegre.cc, websites where users can express local demands. I will call these existing means Collaborative Urbanism 1.0.

However, even with thousands of demands for change recorded in these platforms, there is still some distortion in this collective voice to track which demands have more priority than others. As the cost of saying what you "want to change" in the city is close to zero - a 5 minute internet connection - to then influence municipal leaders to spend resources from the public revenue, this demand becomes poorly thought about, as the citizen does not have the correct incentives to really research and identify objectively what are the priorities. Giving an example for Collaborative Urbanism 1.0, maybe many people ask for more parks or more landmarked buildings, but if the resources used for these measures were in their own pockets maybe they would think differently. Milton Friedman said that the worst way of spending money is when one person spends another persons money, since there are no significant losses if the decision is wrong and there is a lack of information of what this other person wants. On the other hand, the best way of spending money is when we spend it on ourselves, as we have the right incentives (after all, we are giving up own own cash) and as there isn't anybody better then ourselves to identify what are out prioritary wants. 

Today, in Brazil, there are basically two forms of municipal decisionmaking. One is by a group of politicians and technicians who try to identify what are the main necessities of the population by collecting data and doing research as with these existent collaborative platforms (which we know are constantly being distorted by politics). Another is by the Orçamento Participativo ("OP" for short or Participatory Budget in English) which also ends up in the incentive and lack of information problem for decisionmaking. Besides, in the existing OP system only around 1% of the population effectively participates as meetings are long, expensive and, more important, inaccessible to low-income workers who simple don't have time to go to the meetings where decisions are made. 

Presenting these problems, I suggest a way to enhance Collaborative Urbanism 1.0: by joining it with a crowdfunding platform. Crowdfunding sites like Catarse, the first big one in Brazil, allow each user to create and finance a cause in a collaborative way, may it be a social one like the "Marijuana March" or even more personal objectives such as helping a musical group lauch a new EP. Kickstarter is another one, focusing on projects involving creativity and innovation, with growing projects that even involve urban themes such as the Raleigh Urban Farming project. In a crowdfunding project all means of participation are welcome: some make their financial contribution, some help spreading the word, others do both. With this new mixed platform - Collaborative Urbanism 2.0 - change also wouldn't depend of the good will of a small group of people, like the volunteers at PortoAlegre.cc, where returns are collectivized: everyone would have the incentives to act in a positive way, as without your personal contribution the project you want so much can never become reality. This platform not only corrects the incentive problem, as there is personal spending to contribute to a cause, as it multiplies the available information to every user, as all existing urban problems created by thousands of users are there to be studied about. Imagine an urban festival such as BaixoCentro (which has raised more than 17 thousand reais through Catarse) if the resources already spent by paulistanos on the City Hall could be voluntarily directed to it?

Going further with the concept, Collaborative Urbanism could even replace a part of today's City Hall. Wasn't the goal of the representatives to express the will of the people? Why not shorten the process? Upgrading the data collection mechanisms by the online platform would make it leaner, being able to return collected taxes to the population. The budget itself could be redistributed to the users of this platform, so they can each choose the projects they believe are more important, with incentive to make the right decision as their resources are limited. The problem of income inequality and, simultaneously, political viability, could be resolved by giving the same amount to each citizen, credits that could be freely spent in this online platform, making the system more egalitarian and efficient at the same time. Furthermore, by being much more accessible with an extremely low participation cost, this would also attract a larger number of citizens to pick which causes have a higher priority. Collaborative Urbanism 2.0 wouldn't simply be a way to make citizens closer to the public decision, but it would place decisionmaking in the hands of citizens themselves.

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